quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Bem Estar...

Na vibração dos mantras


Encontre um cantinho especial na sua casa e experimente entoar um mantra. Ele tem o poder de acalmar a mente. Nada mais oportuno nesta época de correria de fim de ano.
Chegando de um dia agitado em sua casa, sente-se em um canto confortável e, num ambiente calmo, ouça uma música suave. A sensação de relaxamento até pode aparecer, mas perceba que você não consegue se desligar do mundo lá fora: o que precisa fazer no dia seguinte, as contas para pagar, para quem precisa ligar antes de dormir, se vai tomar banho já ou ler os e-mails antes...
O exercício de tentar desligar a mente e relaxar não é fácil nem rápido. Quem trabalha com técnicas de meditação usa um som capaz de mexer com as ondas cerebrais. Os mantras são canções consideradas sagradas, com letras que têm significado e objetivos específicos. É um som que tem como instrumento a voz e que pode ser monossilábico, como o mantra “Om”, uma frase curta, como “Om Gam Ganapataye namah” (“eu saúdo Ganesha, o deus-elefante”), ou uma estrofe de 24 sílabas. “A função é desobstruir os canais sutis através da ressonância da vibração. Ele vai auxiliar a fluir melhor a energia, equalizar essa energia do corpo e diminuir a instabilidade da mente”, explica Alice Regina de Jesus, instrutora do Sathya Ateliê de Yoga.
Além dos praticantes de ioga, o mantra é usado também por budistas da linha tibetana, por seguidores do Hare Krishna e até por algumas linhas cristãs, como os monges beneditinos.

Entoar mantras é uma maneira de afastar pensamentos negativos, reverenciar um ser sagrado e tentar passar para o mundo um pensamento positivo. Pode ser usado em qualquer lugar, seja no trânsito, em uma reunião de trabalho, em um momento de raiva... “Tenho conhecidos que me contaram que começaram a entoar mantras mentalmente em ambiente de trabalho, quando estavam estressados, e que passaram a curtir até as reuniões tediosas. Com o tempo, colegas começaram a perguntar o que eles estavam fazendo para conseguir ficar mais calmos”, conta o lama Rigdzin, do centro de budismo tibetano Dordje Ling.
Ele diz que os mantras despertam o sentimento de compaixão e que esse fenômeno é explicado fisiologicamente. “Entoar mantras faz com que ativemos ondas cerebrais do lobo frontal esquerdo, que, quando estimulado, aumenta a sensação de bem-estar e, por isso, de paz”, diz o lama.
Para os budistas tibetanos, o mantra é uma maneira de agradecer a vida e retribuir, emanando energia positiva para o mundo. Tais letras e sons, para os budistas e praticantes de ioga, são transmitidos por budas sagrados, captados por mestres de meditação, fortemente espiritualizados. Por isso, essas letras são escritas em sânscrito, a língua sagrada para os budistas.
Para os não iniciados, podem parecer incompreensíveis. “Mantras sem significado não funcionam. Todo mantra sânscrito significa alguma coisa ou aponta para algum aspecto da realidade, adequado como tema de reflexão para cada praticante”, diz Alice.
Para o ioga, são dois tipos de mantra. Um, chamado de kirtan, trabalha com a extroversão, alegria, leveza e satisfação. O outro são os sons japa, uma forma de vocalizar o mantra repetitivamente, que consegue levar o praticante a um estado de introspecção.
Quem não é acostumado com esses sons e mudanças nas ondas cerebrais que eles trazem pode estranhar no início. “O mal-estar inicial acontece porque é como se o corpo fosse um quarto empoeirado. O mantra vem para fazer essa faxina e, na hora em que a poeira que estava parada se levanta, a pessoa sofre. O mantra dissipa essa poeira do nosso corpo, traz limpeza e, por isso, leveza”, diz o lama Rigdzin.
Por serem sons poderosos, os mantras podem mexer com alguns sentimentos que estavam guardados e por isso não é difícil que um iniciante sinta raiva, vontade de chorar ou de dar gargalhadas. É o início da limpeza espiritual. “Dalai Lama ensinou que a maior parte da nossa vida está ótima, mas a estragamos com preocupações obsessivas do passado e do futuro”, afirma o lama. Assim, o mantra nos traz para o presente e é uma espécie de refúgio dos problemas, uma maneira de aprender a lidar com eles de forma mais suave.